O Projecto Tsogolo Tsicana (Avança Rapariga), financiado pelo Governo da Flanders e implementado pela ADPP Moçambique, em consórcio com a GCR na Província de Tete, está a impactar a vida de milhares de Raparigas Adolescentes e Mães Jovens (RAMJ) dos 9 aos 24 anos de idade nos distritos de Tete, Changara e Moatize, regiões onde os índices de uniões prematuras, gravidezes precoces e outras formas de Violência Baseada no Género (VBG), e a vulnerabilidade ao HIV continuam elevados.
Com uma abordagem comunitária centrada no empoderamento das raparigas, o projecto promove o acesso à educação, à saúde, à autonomia económica e à protecção contra a VBG, criando um sistema de apoio onde as adolescentes e jovens podem crescer com saúde e dignidade. A força do Tsogolo Tsicana reside na sua abordagem integrada que conecta a comunidade, escolas e os Serviços de Saúde, envolvendo mentoras, navegadoras, profissionais de saúde, professores, líderes comunitários e comunidades, na união de esforços para apoiar as Raparigas Adolescentes e Mães Jovens (RAMJ) a tomar decisões informadas e acertadas, a cuidar da sua saúde e garantir um futuro melhor para si e suas famílias.
Entre 2023 e 2025, mais de 9.000 raparigas foram encaminhadas para os Serviços de Saúde Amigos dos Adolescentes e Jovens (SAAJ), contribuindo para quase 21% do total de atendimentos juvenis nas unidades sanitárias apoiadas. Este aumento no acesso aos serviços de Saúde Sexual e Reprodutiva contribuiu para a redução de 15% de gravidezes precoces nos distritos alvo.
Na componente VBG, o projecto identificou 415 casos, com quase metade deles resolvidos, graças à actuação de líderes comunitários que apoiaram activamente em cerca de 38% das situações resolvidas. Estas intervenções demonstram o papel fundamental das comunidades na prevenção e resposta eficaz à violência.
O acesso e a permanência na escola também ganharam nova dinâmica, ao permitir que mais de 50 raparigas regressassem à escola, muitas com apoio directo do projecto. A realização de diversas actividades de sensibilização como o Dia dos Pais na escola, Dialogos Comunitários na comunidade e Visitas Domiciliárias resultou numa redução de 25% das desistências escolares nas escolas abrangidas, comparando com o ano lectivo anterior.
O conhecimento do estado serológico e o apoio entre pares têm sido ferramentas essenciais na resposta ao HIV. Mais de 7.000 raparigas passaram a conhecer o seu estado serológico e 196 que vivem com HIV participam nos TRIOs, uma estratégia de apoio ao paciente e que reforça a adesão ao tratamento antirretroviral.
O fortalecimento económico também é uma prioridade. O projecto facilitou a criação de 83 Grupos de Poupança que, em três anos, acumularam o equivalente a mais de 15 mil dólares. Estes grupos permitiram que cerca de 659 mães jovens investissem em pequenas actividades geradoras de rendimento e ganhassem autonomia económica.
Exemplos como o de Sónia Arnaldo, uma mãe jovem do Distrito de Changara que começou a fazer e vender perucas, mostram como a geração de rendimento muda vidas. Hoje, Sónia voltou à escola pois com o lucro de suas vendas ela consegue comprar material escolar e consegue ajudar o marido nas despesas da casa com o impulso do projecto.
Antónia Beca, no Distrito de Moatize, é hoje uma navegadora comunitária e destaca os avanços alcançados, especialmente na redução de uniões prematuras e gravidezes precoces. Já a professora Ângela João, da Escola Paróquia em Moatize, afirma que na sua escola já não se registam mais casos de desistências, demonstrando o impacto directo do projecto nas salas de aula.
No Centro de Saúde da CFM em Moatize, a enfermeira Maria Fernando, Ponto Focal dos SAAJ, confirma a crescente adesão das raparigas aos serviços SAAJ, ainda que a falta de insumos se mantenha como um desafio. Apesar das limitações, a presença do Tsogolo Tsicana permitiu manter respostas essenciais num momento em que vários doadores internacionais deixaram de apoiar a componente de Saúde Sexual e Reprodutiva em Moçambique.
O Médico-Chefe do Distrito de Changara, Isac Maposse, relata mudanças significativas de atitude entre os jovens desde 2023, com uma redução estimada de 10 a 15% nas uniões prematuras em zonas mais remotas. Estes dados mostram que Tsogolo Tsicana é mais do que uma resposta a um problema social, é um modelo transformador e sustentável.
Num contexto em que cerca de 90% dos serviços de saúde em Moçambique dependem de doadores, Tsogolo Tsicana prova que soluções lideradas localmente, construídas com e para as comunidades, podem garantir resultados concretos e servirem de modelo a nível global.
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